Somos demasiado frívolos; buscamos o atordoamento das mil distrações, corremos de um lado para o outro achando que somos grandes cumpridores de tarefas, quando o primeiro dever seria de vez em quando parar e analisar quem a gente é e o que estamos fazendo com a nossa vida. O mundo em si não tem sentido sem o nosso olhar que lhe atribui identidade, sem o nosso pensamento que lhe confere alguma ordem.
- Questionar o que nos é imposto, sem rebeldias insensatas mas sem demasiada sensatez. Saborear o bom, mas enfrentar o ruim. Suportar sem se submeter. Entregar-se sem renunciar a si mesmo. Sonhar, porque se desistirmos disso apaga-se a última claridade e nada mais valerá a pena. Escapar, na liberdade do pensamento, desse espírito de manada que trabalha obstinadamente para nos enquadrar, seja lá no que for.
Sob a pressão do ter de parecer, ter de participar, ter de adquirir (...) assumimos uma infinidade de obrigações; Algumas desnecessárias, outras impossíveis, muitas que não combinam conosco e nem nos interessam. Não há perdão nem anistia para os que ficam de fora da ciranda: os que não se submetem mas questionam, os que pagam o preço de sua relativa autonomia, os que não se deixam escravizar, pelo menos sem alguma resistência. Quem não corre com a manada praticamente nem existe.
Acuados pelo relógio, pelos compromissos, pela opinião alheia, disparamos sem rumo - ou em trilhas determinadas - feito râmsteres que se alimentam da sua própria agitação.
Acuados pelo relógio, pelos compromissos, pela opinião alheia, disparamos sem rumo - ou em trilhas determinadas - feito râmsteres que se alimentam da sua própria agitação.
A vida há de nos cobrar duramente por querermos medir comportamentos segundo nossos padrões pouco generosos, por podar todo relacionamento que não se adapta à medida da nossa ignorância e dos nossos farisaicos valores.
Somos as escolhas que fazemos e as que omitimos, a audácia que tivemos e os fantasmas aos quais sacrificamos a possível alegria e até pessoas a quem amamos. Em suma, fazemos a escritura da nossa complicada história. Vai chegar o dia em que, olhando para trás, vamos ver o que escrevemos com sangue e realidade. E não seremos perdoados pelo disperdício."
- Lya Luft (adaptado)
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